sábado, 30 de janeiro de 2010

ADRIANA PARTIMPIM II

Nelson Gobbi, Jornal do Brasil

RIO - Adriana Calcanhotto volta à brincadeira e a encarnar seu alter ego Partimpim, dando sequência a seu bem-sucedido projeto para crianças, lançado em 2004. Novamente, a música “infantil” da cantora não se rende às fórmulas fáceis, que menosprezam a inteligência dos pequenos, enquanto tentam arrancar cada níquel dos pais. Mal comparando, entrar no universo colorido criado por Adriana é como assistir a um desenho da Pixar: fica sempre uma ponta de dúvida a quem a obra se destina, ao conseguir divertir, igualmente, pais e filhos.

A folia de Partimpim começa com o frevo eletrônico Baile Particundum, parceria da cantora com Dé Palmeira, que coproduz o disco com ela e está presente como músico em quase todas as faixas. Adriana desacelera na bossinha Ringtone de amor – que adianta o universo musical e tecnológico no qual os pequenos ouvintes do CD serão criados – e na belíssima versão de O trenzinho do caipira, de Villa-Lobos com letra de Ferreira Gullar. Outro poeta, Augusto de Campos, dá o tema de Alface, na divertida tradução da obra do inglês Edward Lear, que explora as possibilidades sonoras do nome do vegetal. O clima lúdico segue em O homem deu o nome a todos animais – a canção gospel Man gave names to all the animals , de Bob Dylan, vertida ao português por Zé Ramalho – e As borboletas, poesia de Vinicius de Moraes musicada por Cid Campos. Do disco Livro (1997), de Caetano Veloso, Adriana recupera a canção Alexandre, que perde qualquer ranço didático. Sucesso da jovem guarda, a Gatinha manhosa de Roberto e Erasmo ganha versão em voz e violão que remete à gravação oitentista de Leo Jaime. Brincando de trocar tudo de lugar, Partimpim substitui o precioso silêncio de João Gilberto em Bim bom (lado B do compacto Chega de saudade, de 1958) por tambores do Olodum, numa mistura impensável que acaba dando samba, ou melhor, axé.

O melhor do álbum, para crianças e adultos, está no coco Menina, menino, composto pela cantora, e na simpaticíssima Na massa, de Davi Moraes e Arnaldo Antunes, repleta de situações familiares a quem tem pelo menos um elemento do público alvo de Partimpim em casa.

16:26 - 03/10/2009

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