sábado, 30 de janeiro de 2010

AFETIVIDADE

Contribuição para Aprendizagem.


A afetividade é comumente falada dentro do contexto da educação infantil. Onde as crianças fazem parte da comunidade escolar ainda muito pequenas. A ausência materna é substituída pelas professoras e profissionais de apoio. Pensando em afetividade ela se faz presente no cuidar, ela é norteada pelo aconchego fazendo com que a criança sinta-se bem amparada e segura. A afetividade no ensino fundamental é pouco enfatizada. Há uma brusca ruptura na passagem da educação infantil para o ensino fundamental o que contribui negativamente.
A afetividade torna-se motivo de discussão quando as dificuldades dos alunos, no processo de ensino aprendizagem, entre outros fatores tornam-se evidentes. Partindo da necessidade de buscar outros meios de alcançar o aluno, a afetividade passa a ser um dos caminhos traçados ao mesmo tempo investigado pelos educadores.
Dentro do processo de ensino-aprendizagem existe a possibilidade do professor compreender o papel da afetividade, bem claro e de forma eficaz. Fazendo uso dos instrumentos elencados e ao mesmo tempo voltando o olhar para si em busca de formação que venha contemplar ambos, professores e alunos. Professor e aluno estão inseridos no mesmo contexto o que torna uma via de mão dupla.
Dentre muitos pensadores que abordam a questão da afetividade como fator preponderante na aprendizagem, destacam-se neste trabalho, WALLON, VYGOTSKY E PIAGET, com suas teorias e concepções acerca dos desenvolvimentos cognitivos, intelectuais, das emoções e de sentimentos que permeiam as relações professor-aluno.
As teorias de HENRY WALLON contribuem para a compreensão em vários aspectos para o processo do ensino-aprendizagem ele afirma:

“O meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder as suas necessidades e as suas aptidões sensórios-motoras e, depois psicomotoras... Não é menos verdadeiro que a sociedade coloca o homem em presença de novos meios, novas necessidades e novos recursos que aumentam a possibilidades de evolução e diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao nascer, não será a única lei do seu destino posterior. Seus efeitos podem ser amplamente transformados pelas circunstâncias da sua existência, da qual não se exclui sua possibilidade de escolha pessoal...Os meios em que vive a criança e aqueles com quem ela sonha constitui a “forma” que molda a sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente.” (WALLON, 1975,p. 164 a 167).

Por muitos anos o conhecimento foi tido como algo separado da emoção. A cisão entre razão e emoção perdurou por longas eras e foi muito defendida por filósofos de relevância imensa. Essa cisão influenciou fortemente toda a nossa maneira de organização social e inclusive nossa forma de refletir e pensar sobre os mais diferentes aspectos da convivência humana, inclusive a educação. No entanto, apesar de trazer benefícios, essa concepção trouxe também muitos problemas para educadores e alunos, sendo o maior deles o descaso para com a relação afetiva entre professor e aluno. É preciso que a escola se converta em um ambiente humano, em um ambiente afetivo.
A escola é o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da criança. Quando a criança percebe que a professora gosta dela, a aprendizagem torna-se mais facilitada. Ao perceber os gostos da criança, a professora deve aproveitar ao máximo suas aptidões e estimulá-la para o ensino.
WALLON (1989), um dos principais teóricos do desenvolvimento humano, atribui, em sua teoria, grande importância à emoção e a afetividade, elaborando conceitos a partir do ato motor, da inteligência. As interações são uma via natural para o desenvolvimento e para a manifestação das emoções.
Na psicogenética de WALLON, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de vista da construção da pessoa quanto do conhecimento (LA TAILLE, 1992, p. 85). Para este pensador, a emoção ocupa papel de mediadora. O processo de desenvolvimento infantil se realiza nas interações, que objetivam não só a satisfação das necessidades básicas, como também a construção de novas relações sociais, com o predomínio da emoção sobre as demais atividades. As interações emocionais devem se pautar pela qualidade, a fim de ampliar o horizonte da criança e levá-la a transcender sua subjetividade e inserir-se no social. Na concepção walloniana, tanto a emoção quanto a inteligência são importantes no processo de desenvolvimento da criança, de forma que o professor deve aprender a lidar com o estado emotivo da criança para melhor poder estimular seu crescimento individual.

Como afirma SALTINI (1997, p. 89), “essa inter-relação é o fio condutor, o suporte afetivo do conhecimento”.

Na teoria de PIAGET, o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Paralelo ao desenvolvimento afetivo está o desenvolvimento afetivo. Afeto inclui sentimentos, interesses, desejos, tendências, valores e emoções em geral.
Conforme LA TAILLE (1992, p. 76), “Vygotsky explica que o pensamento tem sua origem na esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesse, impulso, afeto e emoção. Nesta esfera, estaria a razão última do pensamento e, assim uma compreensão completa do pensamento humano só é possível quando compreende sua base afetivo-volitiva”.
VYGOTSKY evidencia a importância das conexões entre dimensões cognitivas e afetivas do funcionamento psicológico humano, propondo uma abordagem unificadora das referidas dimensões. Para ele:

“... Cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento de realidade a que se refere. Permite-nos ainda seguir a trajetória que vai das necessidades e impulsos de uma pessoa até a direção específica tomada por seus pensamentos, e o caminho inverso, a partir de seus pensamentos até o seu comportamento e a sua atividade”. (Vygotsky, 1989, p. 6-7).

Para SARTRE E MORENO (2002), Piaget considerava os sentimentos como um motor que impulsiona a ação.
JOSÉ H. BARROS DE OLIVEIRA (2004), nos chama a atenção de que, no passado, os psicólogos se interessavam mais pelo funcionamento negativo da personalidade ou pelas emoções negativas.
A escola dentro da perspectiva de Wallon deve assumir uma postura que atenda as necessidades afetivas da criança, uma escola que integre razão e emoção numa lógica que saiba perceber e incorporar as pulsões vitais da criança no processo de ensino aprendizagem.
A intensificação das relações entre professor aluno, os aspectos afetivos emocionais, a dinâmica das manifestações da sala de aula e formas de comunicação devem ser caracterizadas como pressupostos básicos para o processo da construção de conhecimento e da aprendizagem e ainda, da condição organizativa do trabalho do professor. Compreendamos então que afetividade e inteligência, por conseguinte são aspectos indissociáveis, intimamente ligados e influenciados pela socialização.
Segundo Almeida (1999, p. 198):

“... à medida que se desenvolvem cognitivamente, as necessidades afetivas das crianças tornam-se mais exigentes. Por conseguinte, passar afeto inclui não apenas beijar, abraçar, mas também conhecer, ouvir, conversar, admirar a criança. Conforme a idade da criança, faz-se mister ultrapassar os limites do afeto epidérmico, exercendo uma ação mais cognitiva no nível, por exemplo, da linguagem”.

As crianças em idade escolar necessitam mais de atenção, de carinho, de elogios. Muitas vezes o fato da professora demonstrar que conhece o aluno, que admira sua capacidade, que se interessa pela sua vida, tem um peso muito mais significativo que um beijo ou um abraço. Dessa forma para a criança, torna-se bastante significativo o que é dito sobre ela. Os elogios que são dispensados sobre ela e a atenção as suas dificuldades, são formas sutis do professor manifestar interesse pelo seu desenvolvimento, levando assim a criança ao que Dantas (1993) chama de destravamento cognitivo.
A escola que cria um clima de afeto, simpatia, compreensão, respeito mútuo e democracia, ou seja, um lugar onde todos compartilhem suas experiências e opiniões, proporciona o envolvimento de todos os segmentos que dela fazem parte. Esta relação afetiva constitui incentivos para os desenvolvimentos da aprendizagem cognitiva.
A afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência, desde a mais tenra idade. PIAGET (1962) ressalta que, na relação entre inteligência e afeto, este produz ou pode produzir desenvolvimento de importantes estruturas cognitivas, tão necessárias na construção dos saberes. Alerta ainda, que a condição do afeto pode retardar ou acelerar a formação de tais estruturas. Assim é inquestionável a valorização do afeto na criança em inicio de escolarização, uma vez que vai coadjuvar na fundação dos pilares da sua auto-estima, considerando-se a qualidade das interações enquanto dimensão da mais diretamente observável e acessível da relação: as trocas comportamentais entre os agentes sociais.
Diante dos pressupostos teóricos expostos reafirma-se a importância da afetividade não só na relação professor-aluno, mas também como estratégia pedagógica. Um professor que é afetivo com seus alunos estabelece uma relação de segurança, evita bloqueios afetivos e cognitivos, favorece o trabalho socializado e ajuda o aluno a superar erros e a aprende com eles.

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