domingo, 18 de abril de 2010

Tiques infantis, como os pais devem lidar com eles? Como os pais devem lidar com eles?


Entre 20 e 24% do total de crianças em fase escolar têm tiques. As causas podem ser consequências de uma somatização de angústias psíquicas ou até mesmo de uma sequência de acontecimentos traumáticos. Os pais devem ficar bem atentos para evitar que as manias não evoluam para Transtornos Obsessivos Compulsivos (TOC).
Os tiques classificados como motores e vocais são caracterizados por movimentos involuntários, rápidos, repetitivos e estereotipados, que surgem de maneira súbita e não apresentam ritmo determinado. A intensidade dos movimentos é variável. Alguns são quase imperceptíveis, outros, bastante complexos, como saltos ou fortes latidos. Há também casos em que são "camuflados" em atitudes corriqueiras, como afastar o cabelo do rosto ou ajeitar a roupa (neste caso, só são reconhecidos por seu caráter repetitivo). Piscar os olhos continuamente, fazer caretas faciais, movimentos com o nariz e boca, repuxar o pescoço, franzir a testa, trincar os dentes, estalar a mandíbula, levantar os ombros, ou mexer outras partes do corpo, como também coçar a garganta, fungar e emitir algum som são os sinais mais freqüentes de quem apresenta Distúrbio de Tique Transitório, que se não for tratado, pode evoluir para Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
Para o professor e psicólogo Luiz Gonzaga Leite, chefe do Departamento de Psicologia do Hospital Santa Paula, cerca de 3% da população apresenta tiques em determinadas fases da vida, mas é mais comum na infância. "O distúrbio surge por volta dos sete anos de idade, mas esse evento pode variar dos dois aos quinze anos. No caso dos meninos, pode ocorrer entre os cinco e oito anos, e nas meninas, na adolescência".
Conforme Leite, de 20 a 24% do total de crianças em idade escolar têm tiques. Ele explica que "isso acontece pelo fato de a criança, na fase escolar, sair de um círculo familiar às vezes protecionista demais, incapacitando a mesma de lidar com os conflitos do mundo externo - nestes casos, o tique pode ser uma demonstração somática de angústias psíquicas".
Entre outras causas, esses tiques podem ter início na seqüência de acontecimentos traumáticos, como uma dramática separação de casais; a morte de algum ente querido; a mudança de escola ou mesmo de cidade (em que se deixa para trás as pessoas de convívio diário); o nascimento de um irmão, ou ainda quando a criança é submetida a uma presença amedrontadora. "Pais muito rígidos ou hiper protetores costumam contribuir para o aparecimento de tiques e manias em seus filhos que, em geral, demonstram ansiedade, fragilidade emocional, insegurança e medo".
Os pacientes que apresentam o distúrbio conseguem evitar os tiques, porém com esforço e tensão emocional. Algumas vezes, as manifestações são precedidas por uma sensação desconfortável, chamada premonitória e, freqüentemente, seguidas por um sentimento de alívio. Os tiques costumam desaparecer durante o sono ou durante atividades que exijam concentração. Por outro lado, fatores como estresse, fadiga, ansiedade e excitação aumentam a intensidade dos movimentos característicos.
Para lidar com os pacientes vítimas do distúrbio, Leite recomenda aos pais muita paciência, compreensão e carinho com a criança e nunca recorrer à violência. "Os pais devem ter a consciência de que se trata de um ato involuntário, um transtorno de psiquiatria e que necessita de tratamento", explica. O tratamento deve ser realizado por meio de psicoterapia (psicologia) e de medicação.
Na maioria dos casos, essas manifestações são dissipadas com o tempo. "Calcula-se que um terço dos pacientes apresente remissão completa no fim da adolescência, o outro terço melhora dos tiques e o restante provavelmente continuará com o problema inalterado durante a vida adulta".
Os pais devem estar bastante atentos ao surgimento de toda e qualquer manifestação de tique infantil. "Caso os tiques não sejam tratados ou permaneçam por um longo período, podem evoluir para Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC)", alerta o psicólogo Luiz Gonzaga Leite.
Transtorno Obsessivo Compulsivo
As "manias", alguns tiques e pensamentos "absurdos" que não saem da cabeça podem fazer parte do quadro de Transtorno Obsessivo Compulsivo, conhecido como TOC. "Embora esse quadro tenha geralmente início na adolescência ou começo da idade adulta, ele pode aparecer na infância de forma tão comum quanto em adultos. A idade de início costuma ser um pouco mais precoce nos homens", afirma Leite.
A causa do Transtorno Obsessivo Compulsivo ainda é desconhecida. O TOC é provavelmente resultante de fatores causais diferentes. Algumas formas de TOC são familiares e podem estar associadas a uma predisposição genética. Outras se apresentam como casos esporádicos. Entre os casos familiares, parte parece estar relacionada aos transtornos de tiques, como por exemplo, a Síndrome de Tourette (distúrbio neurológico ou "neuro-químico" que se caracteriza por tiques). O TOC de início precoce está associado com uma preponderância masculina e um risco aumentado de transtorno de tiques.
Como identificar o TOC infantil?
Para suspeitar-se do TOC, os pais devem tentar identificar em seus filhos algumas lesões cutâneas devido à lavagem excessiva das mãos, gasto excessivo de sabão e papel toalha, trejeitos e tiques, tempo gasto em demasia para a realização das tarefas (de casa e da escola), buracos nos cadernos ocasionados por apagar seguidamente, solicitação exagerada para familiares responderem à mesma pergunta, medo persistente e absurdo de doenças, aumento excessivo na quantidade de roupas para lavar, demora para preparar a cama, medo persistente de que algo terrível aconteça para alguém, preocupação constante com a saúde dos familiares, entre outros.

Simone Vieten
Publicação: Dezembro 2006 - Edição: 28

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