sábado, 29 de maio de 2010

Magalice no País das Melancias...


































Clássicos do Cinema 19 - Magalice no País das Melancias (revista bimestral, formato 19 x 27,5 cm, 48 páginas, R$ 5,50, distribuição nacional) - Coletânea de histórias malucas e engraçadas da Turma, inspiradas no clássico de Lewis Carroll. E a revista traz ainda um pôster central destacável.


Para mais informações sobre "literatura" :

http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com 


É um Blog muito interessante!!! Vale a pena!

Tempo de Alice

Elisa Marconi e Francisco Bicudo

Alice no país das maravilhas, livro do britânico Lewis Carroll, que figura na prateleira dos clássicos da literatura mundial, está comemorando 145 anos de publicação. A continuação da história da garota de cabelos loiros que entra num mundo mágico depois de cair na toca de um coelho, Alice no país do espelho, é um pouco mais jovem, tem 138 anos. Apesar das idades avançadas, as duas obras conquistaram recentemente o status de um dos assuntos preferidos da mídia, principalmente nas páginas e editorias de cultura e comportamento. O estopim responsável por essa retomada e redescoberta de Alice é o lançamento da versão cinematográfica da narrativa, dirigida por Tim Burton, famoso pelos personagens tão grotescos quanto adoráveis, como o barbeiro meio frankstein Edward Mãos de Tesoura(1990), interpretado por Johnny Depp. As notas seguem pela seção de livros e terminam na seção de decoração, moda e comportamento, com muitas sugestões de roupas e objetos para a casa, indicando que – sim – estamos diante de mais um modismo midiático.

Aqui no Brasil, a estreia do filme estava prevista para 23 de abril, mas bem antes disso o temaAlice já vinha aparecendo como mote para uma série de eventos. A Livraria Cultura, por exemplo, montou todo um ciclo de debates sobre a personagem e seus companheiros de aventura, como a Rainha Vermelha, o Coelho e o Chapeleiro Maluco. “Parece que o marketing redescobriu Alice”, avalia a professora de Literatura da Universidade de São Paulo (USP), Nelly Novaes Coelho, antes de fazer a ressalva mais importante: “Mas não é por isso que esse livro é imortal. A publicidade só pega carona nas boas qualidades da obra de Carroll. O modismo vai passar, e Alice vai permanecer maravilhosa”, completa a professora, que fundou a cadeira de Literatura Infantil da universidade.Alice no país das maravilhas, livro do britânico Lewis Carroll, que figura na prateleira dos clássicos da literatura mundial, está comemorando 145 anos de publicação. A continuação da história da garota de cabelos loiros que entra num mundo mágico depois de cair na toca de um coelho, Alice no país do espelho, é um pouco mais jovem, tem 138 anos. Apesar das idades avançadas, as duas obras conquistaram recentemente o status de um dos assuntos preferidos da mídia, principalmente nas páginas e editorias de cultura e comportamento. O estopim responsável por essa retomada e redescoberta de Alice é o lançamento da versão cinematográfica da narrativa, dirigida por Tim Burton, famoso pelos personagens tão grotescos quanto adoráveis, como o barbeiro meio frankstein Edward Mãos de Tesoura(1990), interpretado por Johnny Depp. As notas seguem pela seção de livros e terminam na seção de decoração, moda e comportamento, com muitas sugestões de roupas e objetos para a casa, indicando que – sim – estamos diante de mais um modismo midiático.
Diante do fenômeno de super-exposição das histórias de Lewis Carroll e de seus personagens tão diferentes, a pergunta que se deve fazer é: por que essas narrativas continuam tão vivas e capazes de suscitar paixões mesmo depois de quase 150 anos do lançamento? Nelly começa explicando que, na época da publicação das histórias, o mundo que Carroll apresentou rompia completamente com tudo que a sociedade vitoriana da Inglaterra estava acostumada a encontrar na literatura para crianças. “Até então, o que se tinha era uma literatura pedagógica, cheia de lições para as crianças”, conta. “Alice no país das maravilhasnão é nada disso. Aliás, é o oposto do que era considerado exemplar para as crianças. O autor trabalha com magia, rompe com o real e com o bom senso. E apresenta vários personagens absurdos”, completa a professora da USP. Essa ruptura brusca provocou um sucesso enorme. Em meados da década de 1860, o reconhecimento da história veio pelo mundo mágico e até então impensável, o oposto do cotidiano que as pessoas viviam. Já hoje o motivo é inverso, segundo Nelly. “O absurdo, o estranho, um mundo em que tudo pode acontecer, é exatamente o que vivemos hoje. A história de Alice faz muito sentido nos dias atuais e faz sucesso porque é plausível nos dias de hoje”, afirma.
Ainda à época do lançamento, além de descortinar um mundo impossível, Carroll conseguiu outra façanha. O autor apresenta ao mundo uma forma de narrar que não engana a criança. Ou melhor, que não faz com que a criança se sinta enganada. A professora de Teoria Literária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Myriam Ávila, destaca que, por mais inusitados que fossem os conteúdos trabalhados por ele, a história foi contada com tamanha verdade que – invariavelmente – seduz a criança, que vira parceira da aventura e não mais uma leitora desconfiada. Pesquisadora da poesia non-sense, Myriam estuda o estranhamento nos textos de Carroll e de outro poeta britânico – menos famoso por aqui, mas tão importante como o pai de Alice na criação do inusitado – chamado Edward Lear. As investigações da professora mineira apontam que esse traço inovador de Alice no país das maravilhas se mantem mesmo nas adaptações mais simples e que esse encantamento só é possível quando o autor consegue alcançar e refletir sobre questões universais e atemporais. “É o que acontece com os contos de fada, por exemplo. Embora tratem de um reino distante e de um passado remoto, as histórias falam diretamente com cada leitor. Carroll conseguiu isso”, defende.
Ao mesmo tempo, o autor é muito feliz no retrato de uma época e do espírito que marcava aquele momento. “A Inglaterra da Rainha Vitória era uma terra em que as tradições, as regras, as homenagens e honrarias eram a coisa mais importante. Carroll retrata isso com um humor ácido. A Rainha Vermelha, ou Rainha de Copas, nada mais é que a própria rainha Vitória”. Nas páginas do livro, a rainha e as outras figuras da corte britânica da época e os próprios costumes sociais, como o chá das cinco, a pressa e o excesso de regras, são mostrados de um jeito absurdo, nonsense mesmo. E, apesar dessa característica ser revolucionária, não foi – em tempo algum – punida. Myriam conta que a rainha britânica leu o livro e gostou tanto que não só não mandou cortar a cabeça de Lewis Carroll, como pediu para receber todas as obras futuras do escritor. O que ela não imaginava é que as produções seguintes do autor seriam cartilhas de matemática e obras afins.
Aliás, o que causa estranheza é que Carroll era um professor respeitável, sério e preocupado em não cometer nenhum deslize em sua vida particular, segundo a professora da UFMG. Ele chegou a tentar ser um orador religioso da Igreja Anglicana, mas parece que a dificuldade para falar em público o impediu de seguir essa carreira. De qualquer maneira, é curioso imaginar que um mundo estranho, que rompe com todos os padrões da dita normalidade, tenha saído da cabeça de alguém com o histórico do escritor. Nelly gosta de atribuir essa façanha ao dom que os autores têm de traduzir aquilo que a sociedade toda já vive, mas que ainda não pôde ser nominado, não pode ganhar a concretude da vida real. Os melhores livros e os melhores autores antecipam as grandes mudanças, as revoluções, as angústias de seus tempos e, com sorte, alcançam o status da permanência, porque vão tão fundo nessas transformações, que seguem atuais. Myriam concorda. Ela não pode garantir que Lewis Carroll tivesse total dimensão da ruptura que estava propondo ao escrever Alice no país das maravilhas, mas sugere que o autor intuiu que algo de importante estivesse nascendo. “Tanto assim que, num tempo em que isso era totalmente incomum, ele tomava conta do esquema de vendas, das ilustrações e desenvolveu uma série de produtos que levavam a marca da Alice. Foi um trabalho de marketing mesmo”, conta.
Tudo indica que o escritor também sabia que o livro ultrapassaria o público infantil e cairia nas graças dos adultos. Segundo a professora da UFMG, a linguagem desenvolvida por Carroll encontra parentesco com aquela criada por William Shakespeare, séculos antes. O estilo inspirado no barroco, na estética do exagero e do bizarro pode e deve ter influenciado o autor de Alice, que propõe um mundo mágico para as crianças e cheio de ironias para os adultos. Por isso é que Nelly sugere que se leia várias vezes na vida Alice no país das maravilhas e Alice no país do espelho. Quando se é criança, segundo as duas professoras, a passagem para o universo fantasioso se dá sem nenhum sofrimento, e o leitor mirim experimenta o que é fora do comum dentro uma normalidade absurda. Quando se lê quando adulto, a passagem acontece de outra maneira, cheia de referências e bagagens, que torna a aventura saborosa e bem humorada.
Ainda para os adultos, questões como o posicionamento do indivíduo diante do mundo merecem algum destaque. No século XIX, quando o livro foi escrito, muitas mudanças estavam em curso, e o homem estava perdendo seu lugar de criatura preferida de Deus para virar um animal que tinha tido a “sorte” de evoluir para essa espécie que conhecemos tão bem, como defendeu o naturalista britânico Charles Darwin. Era uma época em que as certezas minguavam, e a complexidade do mundo só crescia. Estamos falando do pensamento de Karl Marx e Sigmund Freud, da redução do poder da igreja. Nesse contexto, a linguagem que sempre servira de tradutora já não conseguia dar conta da mediação entre o Homem e o Mundo. As histórias de Alice se encaixam perfeitamente nessa situação. E, para os adultos de hoje, a obra continua se prestando a esse papel de explicar o que causa perplexidade, estupefação. Naquele tempo, porque era o novo, o inimaginável. Hoje, porque é o que costumamos ver. Myriam lembra uma cena bem emblemática disso, em Alice no país do espelho, quando a Rainha pega a protagonista pela mão e elas correm, correm muito, até perderem o fôlego; quando param, estão exatamente no mesmo lugar.
Os leitores mais velhos também se encantam com Alice porque encontram símbolos, imagens do inconsciente que futuramente seriam tratados pela psicanálise. Lewis Carroll, provavelmente sem querer, acabou se denunciando em vários pontos das duas histórias. A professora da UFMG acredita que ele não tinha como perceber que estava expondo traços da sua personalidade, mas que acaba fazendo isso. A relação com o proibido, por exemplo, passa pela obra. Alice tem alucinações depois que come cogumelos mágicos. Nos anos 1970, essa passagem foi tida como apologética ao consumo de chá de cogumelos, uma infusão alucinógena bem comum naquela época. Myriam acha engraçado associar uma coisa com a outra, mas concorda que essa ligação é bem comum. Contudo, nos idos de 1860 e 1870, essa droga nem tinha sido inventada, por isso relacionar a obra às experiências dos hippies é um certo exagero. Por outro lado, o escapismo, a fuga para outro mundo em que a imaginação ganha corpo e que o ócio é bem vindo, ou seja, o flerte com o proibido está presente em vários momentos. É, aliás, por isso mesmo, que a professora da UFMG se arrisca numa análise pouco comum.
Para Myriam, Alice tem algo das heroínas feministas. Ela é uma garota jovem e inconformada. Rebelde, cansada da vida comum, aceita entrar e ajudar a criar um mundo diferente, em que coisas estranhas podem acontecer. O poder maior está nas mãos de uma mulher forte como a Rainha Vermelha, e Alice vai à luta para conseguir o que deseja. Para a professora, atualizações como esse olhar feminista para a personagem são sempre bem-vindas e ajudam a explicar porque ainda hoje as histórias de Lewis Carrolll causam comoção. Nada disso, contudo, resolve o mistério da permanência da obra e, a bem da verdade, as especialistas em literatura acreditam que a busca não seja mesmo por esgotar o assunto. Nelly e Myriam acrescentam que não há idade certa nem porta certa para mergulhar nesse mundo. Aproveitar a ofensiva da publicidade e do cinema hollywoodiano pode ser um bom começo. Para as crianças menores, as adaptações em forma de livros com pop-ups e o filme dos estúdios Disney pode ser um convite eficiente. O fato para as duas é que “Quanto mais gente ler Alice, melhor”.

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África do Sul...

A África do Sul para além da copa do mundo
Francisco Bicudo
As escolas começam a pensar em como reorganizar as atividades para que professores e alunos possam acompanhar os jogos da seleção brasileira. O álbum de figurinhas que traz os astros das diversas seleções participantes do Mundial transformou-se em verdadeira febre, e os cromos são trocados freneticamente em ambientes de trabalho, nas áreas livres de universidades, em bares e restaurantes. Nas mais diferentes rodas de conversa, aliás, discute-se com toda a propriedade – e há argumentos para todos os lados – se Neymar, Paulo Henrique Ganso e Ronaldinho Gaúcho devem ou não ser convocados pelo técnico Dunga.
Em tempo: o mistério será desfeito no próximo dia 11 de maio, uma terça-feira, às 13 horas, quando será divulgada a convocação oficial do Brasil. Emissoras de televisão exibem reportagens especiais sobre a Copa, jornais impressos trazem entrevistas e perfis de alguns dos craques que poderão se transformar em protagonistas da disputa. Na internet, começam a ser feitas as apostas, os tradicionais “bolões”. Quem vai ser mesmo o campeão? O artilheiro? Na Europa, os campeonatos chegam ao fim, com os clubes mais poderosos do planeta liberando jogadores das mais diferentes nacionalidades – é assim que funciona a babel globalizada futebolística – a se apresentarem às suas seleções.
O mundo, enfim, já acionou o cronômetro da contagem regressiva e começa a respirar, cada vez mais intensamente, os ares da Copa do Mundo da África do Sul – a primeira disputa a ser travada em continente africano. A bola começa a rolar, em 11 de junho, às onze da manhã, no estádio Soccer City, na cidade de Johanesburgo, na partida que reunirá a seleção anfitriã e o México. Mas, para além do espetáculo proporcionado pelo futebol, qual será a África do Sul que o mundo terá a oportunidade de conhecer? Qual a realidade atualmente vivida pela nação que durante quase meio século, de 1948 a 1990, viu-se diante do domínio institucionalizado do regime de apartheid, que defendia a supremacia branca e a segregação racial?
“É um país animado com a perspectiva de receber um evento com dimensão planetária. A realização da Copa representa para os sul-africanos uma espécie de conquista nacional, pois significa a reinserção digna e legítima do país no cenário internacional”, diz Valdemir Donizette Zamparoni, professor do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Estudos Étnicos e Africanos e do Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ao mesmo tempo, destaca o pesquisador, aqueles que estiverem dispostos a um olhar mais crítico e não apenas a ver futebol conhecerão uma nação ainda marcada por tensões e distorções sociais, apesar das conquistas.
“A África do Sul conseguiu avançar bastante após o fim do apartheid, nas áreas de habitação, fornecimento de energia, saneamento básico, políticas de cotas e de empregos, diminuição do analfabetismo. O mercado de trabalho local é capaz de absorver uma significativa mão-de-obra negra, que forma uma classe média representativa. Na esfera política, há esforços nacionais institucionalizados que privilegiam tolerância e negociação e uma legislação bastante específica que rompe efetivamente com o histórico de segregação”, avalia Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez, professora de História da África da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).
Desigualdades permanecem
Ela ressalta, no entanto, que muitos problemas e desigualdades ainda permanecem. Cita como exemplo a dificuldade e a lentidão na distribuição das terras, que historicamente estiveram concentradas nas mãos da minoria branca, e revela que essa situação não foi modificada. “É uma questão séria e que permanece. Pouco se pôde fazer. Há uma resistência interna enorme à reforma agrária, estabelecida pelos fazendeiros e grandes proprietários, além da pressão do sistema internacional e do grande capital, com quem, nesse caso, os governos pós-apartheid se alinharam”, explica Hernandez, que é autora de A África na Sala de Aula (a 2ª edição, de 2008, foi atualizada).
Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) da África do Sul, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), era de 277 bilhões de dólares (para efeito de comparação, o do Brasil chegou a um trilhão e quatrocentos trilhões; o do Japão, a cinco bilhões; e o dos Estados Unidos, o maior do mundo, a 14 trilhões de dólares). Também no ano passado, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH – medido pela Organização das Nações Unidas, a ONU, considera educação, saúde e padrão de vida) atingiu 0.683, número que colocava a África do Sul em 129º lugar no ranking mundial (o Brasil alcançou 0,813, ficando na 75ª posição). Segundo Leila, 15% a 20% da população concentram quase 40% da renda, enquanto 30% a 35% acumulam 15% das riquezas; oito em cada dez sul-africanos não encontram emprego. “Dos 35 milhões de cidadãos sul-africanos negros, somente cinco mil ganham mais do que sessenta mil dólares por ano. O número de brancos nessa faixa de renda é vinte vezes maior, e muitos ganham muito mais do que essa quantia”, escreve a jornalista canadense Naomi Klein, em “A Doutrina do Choque”. “Nas áreas rurais, 60% dos negros não têm ocupação. O número de pessoas que sobrevive com menos de um dólar por dia duplicou nos últimos vinte anos. Um terço da população continua sem saber ler ou escrever. O índice de repetência atinge 70% das crianças negras”, complementa a repórter Daniela Pinheiro, na reportagem “Diamantes Negros”, publicada pela edição de abril da revista Piauí.
Para muitos críticos do projeto adotado pela África do Sul logo após o fim do apartheid, como a própria Naomi Klein, o cenário atual de exclusão e de mazelas sociais seria o resultado da adoção de políticas neoliberais, como privatizações, achatamento salarial e perseguição aos sindicatos. Zamparoni lembra que o Congresso Nacional Africano (CNA), partido formado pela maioria negra e no poder desde 1994, quando foi realizada a primeira eleição multirracial do país, não era uma agremiação monolítica; ao contrário, sempre foi uma grande frente, capaz de acomodar várias correntes ideológicas e tendências, desde marxistas e socialistas até setores mais liberais. O pesquisador diz que foi uma vitória sair do apartheid, em clima de extrema tensão, sem um banho de sangue. “Essa transição se deu em condições muito específicas, e não havia qualquer possibilidade de pensar na chegada ao poder da maioria negra e ao mesmo tempo implantar reformas socialistas. A mudança econômica negociada teria de se dar mesmo no campo liberal”. “Não me sinto à vontade para usar a expressão neoliberal, porque penso que seja imprecisa. Mas as negociações lideradas pelo Nelson Mandela sempre apontaram na direção de uma não ruptura com o capital. Não havia ilusões”, completa Leila.
Mudanças econômicas e sociais
O professor da UFBA admite que a partir de 1994 o ritmo de crescimento do país diminui. Mas ressalta, no entanto, que há também uma visível disposição do governo em inverter prioridades na alocação de investimentos, que passam a ser redirecionados, deixando de atender apenas à minoria branca para beneficiar a população excluída, principalmente nas áreas de habitação e saneamento. “Mas é preciso mais do que uma década e meia para que os impactos desse movimento possam ser sentidos”, completa.
Esse novo contexto histórico teria sido responsável por abrir espaço para o surgimento de “uma nova elite negra”, os chamados “diamantes negros”, como destaca a reportagem de Daniela Pinheiro, na Piauí. A professora da FFLCH/USP manifesta desconforto em relação a essa expressão, que considera simplificadora e banalizadora das questões da África. Ela diz que, claro, as elites negras substituem as elites coloniais no exercício do poder, formando governos de maioria negra. E, à frente das administrações públicas, vão cometer erros, desmandos e exageros, mas também acertos. “O problema é que as críticas vão invariavelmente recair sobre os erros, como se tudo que está na África devesse ser condenado. É uma visão unilateral da história africana”, lamenta. Ela cita a própria transição pacífica liderada por Mandela, feito que poucos vislumbravam como possível, como exemplo de vitória, em um processo de negociação em que as elites negras foram protagonistas. “E aí, como ficamos nesse caso?”, questiona.
A pesquisadora também pede cuidado e serenidade na repetição da tese que diz que os negros acabaram por criar um racismo às avessas. A expressão, criada pelo filósofo francês Jean-Paul Sartre para compreender o pan-africanismo dos anos 1950 e 60, que desempenhou papel fundamental nos movimentos nacionalistas e por independência na África, seria agora retomada com outra conotação – uma postura revanchista pós-apartheid. Para ela, esse sentimento coletivo de vingança não existe, embora ações pontuais e conflitos isolados envolvendo brancos e negros por vezes se concretizem, como no recente episódio do assassinato do fazendeiro branco Eugene Terreblanche, líder do Movimento de Resistência Afrikáner, morto a machadadas por trabalhadores rurais negros, no início de abril. “A África do Sul não é a perfeição, a terra da igualdade. Mas não acho que possamos assumir ideologicamente essa análise que advoga que ‘os negros chegaram ao poder e agora vão perseguir os brancos’”, avalia Leila. Zamparoni complementa o raciocínio e lembra que há disputas específicas que se misturam com mágoas e dívidas ancestrais. “Nessas situações, é difícil a questão racial não vir à tona. A memória do apartheid ainda é muito viva no país”, diz, para imediatamente completar: “Mas não é a maioria. E o caminho da intolerância nunca deve ser elogiado”.
O professor da UFBA comenta duas outras mazelas que marcam a realidade contemporânea política e social da África do Sul: a corrupção e a epidemia de Aids. Sobre a primeira, ele diz que é uma prática que vem à tona por conta da chegada ao poder, depois de longo período de luta, de um grupo que jamais havia feito parte da administração pública, e que acaba se deslumbrando com a perspectiva de abocanhar o máximo possível, no menor espaço de tempo. “Também não é exclusividade da África do Sul, mas característica marcante desses processos de mudança. Veja só a Rússia. Com a queda do projeto socialista, sobe ao poder uma camada social que rapidamente se transforma no que há de mais voraz em termos de acumulação imediata de capital”, compara. Com relação à Aids, que afeta mais de quatro milhões de sul-africanos, segundo a Unaids, o pesquisador explica que é preciso considerar a questão a partir de uma perspectiva cultural. Segundo ele, para os sul-africanos, é importante ter família grande, muitos herdeiros, o que enraíza a convicção de que manter relações sexuais com preservativo não é adequado. “A urbanização acelerada pós-apartheid criou certo deslumbramento, uma euforia por poder vivenciar esse novo mundo, o que acaba por incentivar a prostituição, maior promiscuidade e o surgimento de um mercado propício para o sexo fora da família”, diz.
Os dois pesquisadores brasileiros garantem que é possível pensar sem sustos ou receios em uma África do Sul pós-Nelson Mandela. Garantem que as instituições no país estão consolidadas e que as disputas e tensões em andamento fazem parte da democracia. Zamparoni define o líder sul-africano como um gênio político, que amadureceu durante os quase 28 anos (1962-1990) em que esteve preso e que conseguiu liderar uma transição pacífica e negociada. “Sem ele, não haverá retrocesso, retorno à violência explícita”, reforça. Para Leila, a melhor palavra para definir Mandela é coerência. “Foi sempre muito fiel à luta por liberdade, à sua base social de apoio e aos interesses da maioria da população. Ajudou a construir instituições sólidas, capazes de continuar essa caminhada, mesmo sem a presença dele”, destaca a professora da USP.
A Copa do Mundo, aliás, poderá também cumprir um pouco desse papel de cimentar a unidade nacional. O filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman e Mat Damon, ambientado na mesma África do Sul e que recentemente esteve em cartaz no Brasil, é um exemplo evidente de como o esporte ajuda a suplantar ódios e revanchismos. Isso sem falar nas potenciais consequências benéficas para a economia (obras, infra-estrutura, empregos, rede de serviços, turismo). “O que vai ficar? Qual será o rescaldo? Se vai ter continuidade? Não sabemos”, diz Leila. Zamparoni alerta: “Claro que o Mundial ajuda. Mas só o circo não é suficiente. É preciso pensar no pós-Copa, na melhoria contínua das condições de vida da maioria da população.”.

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É NOTÍCIA!!!


26/5/2010 13:26:57
Escolas públicas começam a receber instrumentos musicais

Por Redação, com ABr - de Brasília

Mais de 1.800 escolas públicas do ensino fundamental que oferecem educação integral, nas cinco regiões do país, começaram receber esta semana equipamentos e instrumentos musicais para o aprendizado dos estudantes. As escolas fazem parte do programa Mais Educação, desenvolvido pelo MEC em parceria com estados e municípios.

Das 1.813 escolas atendidas nesta remessa, 1.239 receberão a banda fanfarra, composta por 22 instrumentos, e 574 escolas, o conjunto de hip hop, que tem oito peças. Os conjuntos foram escolhidos pelas escolas em 2009. A entrega é feita pelas empresas vencedoras do pregão eletrônico realizado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

A Escola Municipal Machado de Assis, do município de Novo Gama, em Goiás, já recebeu a banda fanfarra. Nessa escola, participam do programa 219 alunos do segundo ao quinto ano do ensino fundamental. A coordenadora do Mais Educação no município, Antônia Niece, diz que a escola busca um voluntário que ensine os alunos. A parceria, explica, deve ser feita com a Polícia Militar da cidade de Luziânia (GO), que fica próxima do Novo Gama.

As 1.239 escolas que pediram a banda fanfarra estão distribuídas nas 27 unidades da Federação. Outras 574 escolas vão receber o conjunto de instrumentos hip hop.

domingo, 23 de maio de 2010

Claude Monet - Obras 2

Claude Monet - Obras

Clipe do Musical: A Noviça Rebelde

Classic Rock Barbershop

Star Wars!

Instrumentos musicais

A grande Ópera

Mickey Maestro

Pedro e o Lobo

Pedro e o Lobo é uma história infantil contada através da música. Foi composta por Sergei Prokofiev em 1936, com o objetivo pedagógico de mostrar às crianças as sonoridades dos diversos instrumentos. Cada personagem da história (o Pedro, o lobo, o avô, o passarinho, o pato [ou pata, em algumas versões], o gato e os caçadores) é representada por um instrumento diferente.

Em O Pedro e o Lobo é utilizada uma Orquestra Sinfônica completa em que cada personagem é representado por um instrumento ou naipe da orquestra e possui um tema musical ou leitmotiv:
Pedro: Cordas;
O Pássaro: Flauta;
O Pato: Oboé;
O Gato: Clarinete;
O Avô: Fagote;
O Lobo: Três Trompas;
Os Caçadores: o tema é introduzido pelas Madeiras e os disparos são representados pelos Tímpanos e pelo Bumbo.

Pedro é um garoto que vive com o seu avô no campo russo. Um dia, Pedro deixa a porta do jardim aberta, o pato aproveita a oportunidade para ir nadar à lagoa. Começa a discutir com um pequeno pássaro (“Que tipo de pássaro é você, se você não pode voar?” - “Que tipo de pássaro é você, se você não pode nadar?”). O gato de Pedro aparece de repente e o pássaro (advertido por Pedro) voa para uma árvore alta.
O avô rabugento de Pedro tra-lo de volta para o jardim e fecha a porta no caso de algum lobo vir. Pouco depois “um grande, lobo cinzento” sai do bosque. O gato sobe pela árvore, mas o pato, que saiu da lagoa, é engolido pelo lobo.
Pedro vai buscar uma corda e passa por cima da parede do jardim para à árvore. Pede ao pássaro que voe em torno da cabeça do lobo, enquanto ele baixa uma corda para prender o lobo pela cauda.
Os caçadores saem dos bosques e disparam no lobo, mas Pedro pára-os. Todos levam o lobo ao jardim zoológico em uma procissão triunfante. No fim pode-se ouvir o pato dizer "quack" no estômago do lobo, “porque o lobo tinha-o engolido vivo.”
Em algumas versões, o pato sai do lobo enquanto este está pendurando da corda. Junta-se então a todos para levar o lobo para o jardim zoológico.

Pedro e o Lobo, parte 1

Pedro e o Lobo, parte 2

Pedro e o Lobo, parte 3

Pablo Picasso

Pablo Picasso

Telas de Romero Britto

Romero Britto

Anita Malfatti

História do Brasil, Semana de Arte Moderna 1922

Tarsila do Amaral

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Esta Semana a Revista Veja, publicou uma matéria sobre o "Construtivismo" que causou grande polêmica entre os educadores, questionando o sistema adotado pelas escolas e alegando os piores indicadores de ensino do mundo.




O título da matéria é: Educação: Salto no escuro


Para maiores esclarecimentos sobre a matéria acesse:

http://veja.abril.com.br/120510/salto-no-escuro-p-118.shtml


Em resposta a revista Veja, o professor Lino de Macedo ( prof. Titular do Instituto de Psicologia da Usp), escreveu:




Ao Senhor Diretor de Redação
VEJA

Prezado Senhor

Como antigo assinante desta revista e estudioso do Construtivismo, segundo Piaget, venho lamentar a publicação, em 12 de maio, da matéria “Salto no escuro”, escrita pelo Senhor Marcelo Bortoloti. Três semanas atrás, esta mesma revista, já publicara matéria contra o Construtivismo, escrita pelo Senhor Cláudio Moura Castro.

O texto do Senhor Marcelo Bortoloti é superficial, tendencioso e mal orientado.
É isto que a Veja entende por jornalismo científico? Como posso continuar assinando esta revista e sustentar minha confiança em suas matérias, sobretudo naquelas em que me sinto ignorante, se – a respeito do que venho estudando desde 1968 -, o que observo é algo totalmente sem respeito?





Indico abaixo os pontos de minha divergência como Senhor Botoloti:

1. Não há dogmas no construtivismo;

2. O construtivismo se caracteriza pela visão de enfrentamento (via realização ou compreensão) de problemas que requerem conclusão; se errada, o desafio é aprender com os erros:

3. Culpar os professores que se dizem construtivistas e não compreendem o que significa, para dai concluir que o construtivismo é responsável pelo fracasso da educação brasileira é simplificador e torpe, próprio de quem escreve sobre aquilo que não entende e, pior que isto, escreve com a motivação de confundir e “desconstruir”;

4. O quadro “A desconstrução do construtivismo”, em que este autor compara “pedagogia tradicional” X “construtivismo”, é de uma banalidade e falta de informação que causa dó e desrespeito em alguém minimamente informado sobre o assunto.

5. Meu pressuposto, pautado no excelente trabalho da Editora Abril, com a Revista Nova Escola e outros projetos educacionais, era que ela valorizava e somava forças com esta imensa tarefa de defender uma escola para todos, apesar das dificuldades deste projeto. Com a publicação deste artigo e do anterior percebo que a Veja é contra esta idéia, sendo favorável ao “melhor da escola tradicional”, com sua visão determinista, favorável à seleção dos mais aptos, o que exclui a maioria de nossa população de crianças e jovens. Que pena!

6. Culpabilizar, enfim, professores e gestores por suas dificuldades em aplicar idéias construtivistas, no Brasil, é injusto, superficial e tendencioso, pois não considera a complexidade de se aplicar princípios teóricos e epistemológicos à prática pedagógica; ignora, também, o muito que se tem feito e conseguido, apesar de tudo. Além disto, minimiza, vulgariza e desengana todos aqueles que, apesar da complexidade desta imensa tarefa, não desistem e aceitam o desafio de uma escola para todas as crianças e jovens.

Concluo informando que vou cancelar minha assinatura desta revista, porque perdi o respeito e a confiança que tinha por ela.
Atenciosamente
Lino de Macedo
Professor Titular do Instituto de Psicologia, USP

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Anorexia nervosa também é doença de criança


Médicos explicam como o transtorno afeta meninos e meninas menores de 15 anos

Os 25 quilos de um menino de 12 anos da Inglaterra – e a insistência do garoto em recusar qualquer alimento por medo de engordar- trouxeram à tona que a anorexia nervosa não é problema só do mundo da moda e das passarelas. O transtorno chegou às crianças, inclusive, aos meninos.
A imprensa britânica noticiou a batalha do menino Taylor Kerkham em conseguir encarar a comida não mais como algo negativo, prejudicial e tóxico e, sim, uma aliada do desenvolvimento. Para isso, foram necessários quatro meses de internação hospitalar e psicoterapia (ainda em curso). A mesma missão de recuperar a desnutrição grave dos pacientes infantis, impulsionada pela vontade das crianças de emagrecer a todo custo, é vivenciada por profissionais brasileiros.
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Obrigar o filho a comer alimentos que não conhece, sem estabelecer uma boa relação com a comida, pode ser o primeiro passo do transtorno alimentar
“O gatilho que provoca a anorexia nervosa na mulher adulta é o mesmo identificado nos adolescentes e crianças, sejam meninos ou meninas”, afirma o psicólogo especializado em menores de 18 anos Raphael Cangelli Filho, que atua no Ambulatório de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo(Ambulim). Lá, ele já atendeu meninos de 9, 11 e 15 anos. “Eles (adolescentes) são tão influenciados por esse padrão estético magro quanto os adultos. É uma preocupação intensa, como se a magreza resultasse em sucesso”, define.
À BBC de Londres, os familiares de Taylor Kerkham disseram que o transtorno da recusa de comida começou quando os colegas de escola “brincavam” e chamavam o garoto de “gordinho” por causa do seus 50 quilos da época (um pouco acima do indicado para a sua idade). Foi o suficiente para despertar uma doente insatisfação com a forma física.
No Brasil, pesquisa do IBGE, divulgada no fim do ano passado, mostrou que as estudantes brasileiras também correm perigo para tentar “ficar” feliz com o espelho. Em uma amostra de 61 mil estudantes, foi identificado que 4.270 delas forçavam o vômito ou tomavam remédios para emagrecer (principal sintoma da bulimia). Todas tinham menos de 17 anos.
Pesquisadores de Minas Gerais e de Florianópolis, em estudos publicados no Caderno de Saúde Pública, identificaram que os sintomas de anorexia em meninos e meninas em idade escolar (13 a 15 anos) atingia a marca de 15,8% entre as quase 3 mil pesquisadas.
Influência dos pais
Ao mesmo tempo em que o motivo para buscar a diminuição do peso pode ser o bullying e a pressão dos colegas de classe, conforme mostrou levantamento publicado na revista Pediatrics,  Elaine Rocha de Pádua, nutricionista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) - especializada em transtornos alimentares infantil - diz que as respostas para origem do problema com a comida pode estar na educação recebida pelos pais.
“Existe uma série de fatores que pode estar por trás da anorexia nervosa em meninos e meninas e um deles é a amamentação”, explica Elaine. “Se a mãe toda a vez que o filho chora dá o peito para ele, a criança cresce convicta de que só encontra conforto na comida. Isso pode torná-la, no futuro, uma comedora compulsiva e aproximar a bulimia ou a obesidade”, diz. “Da mesma forma, um período natural do desenvolvimento infantil é a chamada fobia alimentar. A criança (até os seis anos) tem medo de comer o que não conhece e forçá-la de forma abrupta a ingerir o alimento nessa fase pode resultar em transtorno alimentar futuro.”
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo, recém divulgada, sugeriu mesmo que a anorexia pode ser hereditária. Para sustentar isso, o estudo mostrou que as mães de meninas anoréxicas, em geral, ou falavam muito de forma física ou obrigavam as meninas quando a crianças “a rasparem o prato” ou só brincarem depois de “comer tudo” ou ainda sofreram do transtorno quando mais jovens.
Elaine, da Unifesp, e Raphael Cangelli Filho, do Hospital das Clínicas, ressaltam que todas essas características fazem com que a cura para os transtornos alimentares na infância exija, necessariamente,  a participação ativa dos pais no tratamento. Existem casos que a anorexia pode indicar mais do que uma insatisfação com o corpo, mas algum problema sério como violência física, sexual ou psicológica.
Prestar atenção como o seu filho se relaciona como a comida, afirmam os especialistas, é a maneira mais fácil de reconhecer problemas e fazer intervenções rápidas. Depois de instalada, a anorexia tem de ser acompanhada pelos médicos para o resto da vida. 
Fernanda Aranda, iG São Paulo

Você sabe se seu filho é disléxico?


Dislexia pode dificultar o aprendizado do seu filho na escola, mas não quer dizer que ele não esteja interessado nos estudos


Se uma das maiores dificuldades do seu filho no início da vida escolar é alfabetizar-se, talvez o problema dele não seja somente falta de atenção. De acordo com a psicopedagoga Silvia Amaral, membro da Diretoria da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) e coordenadora da Elipse Clínica Multidisciplinar, se processar as informações é difícil para ele, tanto na leitura quanto na escrita, é possível que ele seja disléxico.
A dislexia é um distúrbio que abrange uma disfunção específica da leitura, mas também pode afetar a linguagem como um todo, com manifestações também na escrita. “O cérebro deles funciona de forma diferente, então na leitura eles podem pular linhas e na escrita eles podem apresentar textos com troca de letras, por exemplo”, explica Amaral. Mas, segundo ela, estes são só alguns dos possíveis sintomas: “Nenhum caso é idêntico a outro, cada disléxico apresentará diferentes combinações de sintomas”.
O que causa e como reconhecer
Segundo Márcia Maria Barreira, psicóloga e coordenadora da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), este problema é genético e, portanto, se a dislexia já existe no histórico familiar, a atenção aos sintomas deve ser redobrada. “Mas a base é de ordem neurológica”, afirma Amaral. De acordo com ela, o funcionamento do cérebro do disléxico ocorre por trajetos diferentes – e maiores – até chegar ao centro da linguagem, por isso a compreensão acaba prejudicada.
No entanto, existem muitos detalhes que devem ser analisados para diagnosticar uma criança com dislexia. “As crianças menores, por exemplo, começam a ter dificuldades para memorizar canções que aprendem na escola e, em livrinhos infantis, se interessam mesmo pelas figuras, e não pelo que está escrito”, afirma Barreira. A partir do momento que elas iniciam o processo de alfabetização, a especialista lembra que são necessários dois anos de estudo para diagnosticar o problema. “Antes disso, dependendo dos sintomas, a criança pode estar somente num quadro de risco”, explica.
E os sintomas podem ser vários: dificuldades para começar a falar, na coordenação motora e até mesmo dificuldades para ter uma boa memória de curto prazo. Mas, segundo Amaral, é preciso excluir alguns fatores para que a dislexia seja mesmo diagnosticada. “É preciso aplicar testes para ver se a criança possui uma inteligência adequada, por exemplo. Ela pode ter um rebaixamento mental e aí é outro problema”, explica. Além disso, problemas emocionais severos, como a psicose, podem apresentar sintomas parecidos. Se estes fatores forem descartados, então a dislexia pode ser o real motivo.
Como tratar
A partir do momento em que é diagnosticada a dislexia, primeiramente é preciso que haja um ambiente favorável para que a criança possa aprender a superar os sintomas. E se tiver um diagnóstico precoce, melhor ainda, para que problemas emocionais e sociais não se desenvolvam. “Os disléxicos podem ter um prejuízo emocional e acabar se achando crianças burras ou se tornando pessoas de baixa autoestima”, informa Barreira.
No entanto, não existe medicamento e o tratamento dependerá da idade da criança e das maiores dificuldades dela. Segundo Barreira, crianças menores normalmente são atendidas por fonoaudiólogos, por ajudarem mais no desenvolvimento com palavras e sons, e crianças maiores são atendidas por psicopedagogos, que trabalham mais na questão da compreensão e interpretação de texto. “Mas não é que eles precisarão de tratamento para o resto da vida”, completa.
“O clínico irá tratar a criança de acordo com os sintomas que ela possui”, afirma Amaral. Se ela possui uma dificuldade maior em se organizar, então serão trabalhadas estratégias de organização, por exemplo. “Ela será ensinada a lidar melhor com a leitura e a escrita e será conscientizada das facilidades que ela possui, para que compense as dificuldades”, explica. De acordo com Barreira, na medida em que vão sendo tratadas, as crianças passam a perceber os erros que cometem e passam a se corrigir.
Sem o tratamento e sem apoio familiar, o disléxico poderá ter um prejuízo no cotidiano em geral. “Vemos muitos adolescentes e adultos que acabam indo para as drogas e para o álcool. Começam a ter um desinteresse muito grande pela escola e podem até chegar a quadros de depressão, mesmo se forem crianças”, afirma Barreira. Segundo Amaral, até mesmo os pais tendem a ter um certo desânimo quando a dislexia do filho é diagnosticada. Mas não é bem assim que o problema deve ser encarado.
O disléxico e a família
“Normalmente os pais, quando descobrem que o filho é disléxico, logo falam que ele não vai poder escolher uma profissão, que não vai conseguir alcançar nada; e não é verdade”, afirma Amaral. Segundo ela, se quando adulta a criança tiver força de vontade e determinação, ela saberá contornar os problemas e poderá viver bem e ser o que ela desejar na vida. “Além disso, eu sempre gosto de dizer aos pais que muitas vezes os disléxicos possuem o lado direito do cérebro mais desenvolvido, então são pessoas que se dão muito bem na área mais visual e possuem bastante criatividade”, conta.
Veja abaixo algumas dicas de Amaral para que, desde pequena, a criança já possa começar a conviver melhor com a dislexia:
- Quanto mais estímulos ela tiver, melhor: proporcionar atividades e jogos diferentes em todos os momentos do dia desenvolve a atenção da criança;
- Sempre que estiver com ele por perto, converse e troque ideias: acrescente informações à vida dele;
- Leve-o ao teatro, ao cinema, ao museu, a lugares novos que podem estimular a inteligência e a atenção dele;
- Ter uma vida saudável com a prática de esportes também colabora para que ele esteja mais atento e, ainda, desenvolverá a noção corporal, como a coordenação motora.