quinta-feira, 25 de março de 2010

5 respostas sobre estresse infantil


A psicóloga e psicopedagoga Alessandra Wajnsztejn explica como os pais podem lidar com o estresse infantil

Clarissa Passos, iG São Paulo | 19/03/2010 

Foto: Getty Images
Estresse infantil: ele pode vir tanto de sensações e experiências boas como de sensações ruins
Muitos adultos sonham com um retorno à infância, como se essa fase da vida fosse livre de qualquer transtorno. Mas não é bem assim. Conversamos com Alessandra Wajnsztejn, psicóloga, psicopedagoga e palestrante da 17ª Educar, feira de Educação que acontece em maio, em São Paulo, sobre o estresse infantil. Ela conta como o estresse é desencadeado em nossas crianças e o que podemos fazer para ajudá-las.

 iG: O que causa o estresse infantil? Situações cotidianas podem desencadeá-lo? Ou apenas situações específicas, como uma morte na família ou bullying escolar?
Alessandra Wajnsztejn: O estresse é um conjunto de reações físicas e psicológicas que causam mudanças químicas no corpo. Isso pode vir tanto de sensações e experiências boas como de sensações ruins. Por exemplo, a morte de um familiar pode ser considerada uma das fontes de estresse mais significativas na infância, mas experiências comuns podem ser responsáveis pelo desencadeamento, como a aproximação de uma data comemorativa, como Natal ou aniversário. Ou mesmo a programação estimulante, porém desgastante, de uma viagem muito esperada.
Também podem contribuir para o surgimento do estresse a responsabilidade em excesso, a presença constante e muito intensa de brigas familiares ou a separação dos pais; a rejeição por parte de colegas no ambiente social e a atitude de disciplina confusa por parte dos pais – quando cada um diz uma coisa e, assim, confundem o referencial que a criança deve seguir. Tudo isso desencadeia ansiedade e pode gerar o estresse. Outros fatores bastante importantes, mas não muito refletidos, são a hospitalização e a doença. Durante o processo de gestação e nascimento de irmãos, a criança também passará por uma fase de adaptação, e requer um olhar de qualidade afetiva por parte dos pais.

iG: O que muda no comportamento da criança estressada? Como os pais podem perceber que ela está com o problema?
Alessandra Wajnsztejn: A ansiedade e a depressão podem ser tanto causa como consequência do estresse. Os pais devem estar atentos, por exemplo, para uma mudança comportamental como uma introversão súbita, a presença de medo excessivo com motivo aparentemente irracional, a manifestação de comportamentos agressivos, impaciência e choro excessivo, desânimo, comportamento de hipersensibilidade, insegurança e sinais de baixa autoestima. Alguns sintomas podem ser de ordem física, como dor de barriga, manifestação de tique nervoso, frequentes dores de cabeça, comportamento hiperativo secundário a alguma situação, enurese noturna (xixi na cama), bruxismo (ranger de dentes durante o sono) e muitos outros comportamentos.

iG: O que os pais podem fazer para ajudar quando a criança já está estressada?
Alessandra Wajnsztejn: Pode-se tentar evitar algumas fontes estressoras. Mas há experiências que a vida nos proporciona que não podem ser evitadas ou controladas por nós, como a morte de alguém, o surgimento de doenças e a ocorrências de acidentes. Portanto, o ideal é dar apoio, afeto, compreensão, ouvir os anseios e temores de nossos filhos e buscar avaliação e tratamento especializados quando este estresse se torna disfuncional – ou seja, quando começa atrapalhar a vida física e mental da criança.
O stress infantil pode influenciar no desenvolvimento da criança? De que forma?
Alessandra Wajnsztejn: Durante o processo de desenvolvimento intelectual, emocional e afetivo, a criança se confronta com momentos em que a tensão de sua vida alcança níveis muito altos, muitas vezes ultrapassando sua capacidade ainda imatura para lidar com as situações conflitantes. A criança que se desenvolve em um ambiente onde a palavra e a atitude familiar são norteadas pelo respeito, ou pela busca de respeito mútuo, poderá sentir-se mais segura de si e, assim, mais resistente. Crianças que são protegidas, mas não sufocadas, também poderão apresentar mais resistência aos eventos da vida. O que precisamos refletir é que nós adultos, pais e educadores, podemos de alguma forma influenciar na vulnerabilidade e na resistência ao estresse, já que ele tem componentes de hereditariedade, mas também de aprendizagem pelo meio.

iG: E como prevenir o estresse infantil? O que os pais podem fazer para evitar que seus filhos sofram esta pressão? 
Alessandra Wajnsztejn: A criança aprende muito com a forma com que o adulto responde às ocorrências da vida. Se o adulto responde de forma ansiosa ou angustiada, a criança tende a aprender a responder à vida da mesma forma. Não podemos evitar que nossas crianças sofram estresse, mas podemos ser otimistas no sentido de acreditar que o estresse poderá não traumatizar a criança para sempre, e que ela poderá ter resiliência para superar estas fases. Podemos ajudar evitando muitas mudanças no cotidiano de nossas crianças em curto espaço de tempo. Por exemplo, não trocar com frequência de escola ou de moradia e evitar sobrecarga nas atividades extracurriculares, numa busca frenética de uma formação acadêmica precoce que, muitas vezes, acaba gerando um desapego da criança em relação às suas experiências escolares e reverte uma situação que ela deveria estar vivenciando com prazer

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